domingo, 22 de março de 2009

Empinadores de pipas.

Recorro à imagem das pipas numa linda tarde de verão para, através da analogia, expressar minhas percepções após as experiências abaixo retratadas.
O que me chamou atenção?
Eram pipas com a mesma forma, presas num só barbante, conduzidas por uma mão e cada uma voando em diferentes alturas.
Foi a primeira vez que vi um vendedor de pipa empinando tantas ao mesmo tempo. A cena no céu me encantou de tal forma que não observei quem estava produzindo-a. Meu interesse foi registrar a imagem.
Ao finalizar a postagem das últimas fotos abaixo constatei que apenas ela seria suficiente para traduzir meus pensamentos.
No primeiro momento a tendência é considerar a surdez como causa das dificuldades de aprendizagem. Em outros momentos nos sentimos insatisfeitos com nossa formação profissional.
Buscamos nos recursos pedagógicos o apoio, mas parece que nunca são suficientes.
Através da participação em cursos, encontros e seminários buscamos complementação e atualização de conhecimento.
As teses atuais na área educacional reconhecem o surdo como uma pessoa capaz de aprender e desenvolver-se naturalmente como os ouvintes.
No convívio diário, nos libertando das amarras da deficiência, começamos a perceber a surdez como uma especificidade como tantas outras que podem identificar uma pessoa.
Retomando a imagem das pipas verificamos que são todas da mesma forma, mas de cores e estampas diferentes. Embora fixadas no mesmo barbante cada uma ocupava diferente espaço guiadas pela mesma mão.
Esta cena nos faz entender que são nas especificidades de cada um que precisamos focar nosso olhar de educador. São as especificidades que nos apontam os caminhos que devem ser seguidos e os que devem ser evitados.
Embora todas sejam crianças surdas não é possível ensiná-las e tratá-las da mesma forma.
Além da surdez existe um corpo físico, um organismo, personalidade, temperamento, registros construídos desde o período em que foram gestadas.
Estes múltiplos olhares nos permitirão ser a mão firme que segura o barbante para que cada um aprenda a viver e conquiste o seu espaço.
Não somos donos do tempo e do espaço. Não há mágica, nem receita.
Somos acima de tudo facilitadores. É preciso manter o olhar focado em cada criança para enxergar o que nos indicam.
Sejamos para nossas crianças a mão segura de um empinador de pipa. Dê a corda que cada uma necessita e deixe-a voar.